Desafios
no caminho para um humor subversivo
Eis o desafio que se apresenta diante do Grupo Risco
de Teatro, de Itajaí, primeiro espetáculo local a subir ao palco no IV Festival
Brasileiro de Teatro Toni Cunha. Como dar o salto do entretenimento cômico para
um projeto artístico com potência para cumprir o objetivo de “um teatro de
benefícios culturais e sociais” ao qual o próprio grupo se propõe, no qual o
riso recupere seu poder de interferência crítica na percepção de uma dada
realidade?
Em qualquer dicionário, risco, quando não é traço,
opõe-se ao previsível, transita pela instabilidade e incerteza. E, mesmo quando
traço, pode ser incisão. O que vemos em cena afasta-se desse sentido incisivo
da experimentação de uma disrupção poética. “Cem Dias” é uma comédia histórica
perpassada por alívios cômicos garantidos por piadas de cunho sexual, que
seguem a cartilha dos lugares comuns do gênero. A conexão entre a malandragem
dos primeiros colonizadores e a corrupção generalizada em tempos sombrios de
congresso sob os mandos de Eduardo Cunha fica encoberta pelas reentrâncias da
trama, cuja atenção se concentra nas situações cômicas derivadas de estereótipo
sexuais como o da mulher madura libidinosa e seus trejeitos afetados.
É claro que o vulgar e o grotesco também guardam
grande potencial contestador se empregados com verve para colocar em crise os
padrões e valores vigentes. Nesse sentido, a dramaturgia pode amadurecer e, em
conjunto com a direção, encontrar estratégias para, sem perder a leveza juvenil
do espetáculo, estabelecer uma troca perspicaz com o espectador.
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